Farmácia Central

Em Ferreira do Zêzere
O amor espreita pela porta do remédio
Que a tudo e que a todos cura
Menos àquela que faz sofrer

O medo de o gritar
A vergonha de o dizer
Nódoas negras de mal estar
Por gostar e não poder

Uma pomada, por favor!
Para esfregar até doer.

Sem comentário

Gostaria de saber, onde está a minha história

A minha vida talhada naquela parte da memória.

Por alguém que se chama Alzheimer

Eu já não sou ninguém

O meu sentir já não me pertence.

Aquela parte da memória não trata só da minha história...

O invasor não se lembrou da minha vida na outra, porque se no todo da minha vida, uma parte é da memória, a outra é só minha.

E assim termino, dizendo...

já não me lembro de quê.

Para o Pai

da filha Lena

com afecto e saudade.

A Bu(r)la

Regra geral sou bem tolerada

não tenho contra-indicações

Alguns efeitos colaterais.

Mas isso deve-se

Às pessoas

Que não me sabem tomar.

Ou abusam e viciam-se caindo na dependência

Ou esquecem-se e voltam a padecer dos mesmos sintomas.

Dos sintomas da minha falta

Da falta da minha toma.